Em sua homilia, na Catedral Metropolitana, Dom Orani frisou que a ressurreição de Cristo lembra a importância da fé nos momentos mais difíceis. Sem se referir diretamente ao massacre de Realengo, o arcebispo disse que “a morte física não é o fim, mas uma passagem para a eternidade. É isso que contemplamos na cruz e mostramos para o mundo, que às vezes não entende e até se revolta com tanta coisa ruim que acontece, que nós (os cristãos) somos esperança”.
Momento inspirador
Após a missa os fiéis saíram em procissão do Senhor Morto, em percurso que seguiu pela Avenida Chile, Rua Senador Dantas, Rua do Passeio e Avenida Mem de Sá, até a Lapa, onde atores encenaram o Auto da Paixão de Cristo.
Para a aposentada Maria José Cardoso, que há mais de 40 anos acompanha a procissão, foi um momento de mostrar que a fé pode ser maior que qualquer tragédia e que as pessoas que passaram por momentos trágicos, como os pais das crianças mortas em Realengo, devem buscar consolo na fé: “Essa é a nossa salvação”.
Na Cidade de Deus, a Companhia de Teatro Provocação, de jovens atores moradores da comunidade, apresentaram a história com roupagem contemporânea, onde um Cristo negro é perseguido por traficantes e policiais corruptos e acaba queimado em um ‘micro-ondas’, feito de pneus.
Como na Rocinha, o espetáculo também conta com moradores como figurantes e é encenado nas ruas da favela. O diretor da peça, Adislon Dias, disse não temer a polêmica: “Dois mil anos de Cristo santo não deu muito jeito na humanidade. Por isso, prefiro acreditar em um Jesus mais humano”. A peça fica em cartaz até amanhã, no Ciep João Evangelista, às 20h.
Mais de 60 mil para festejar São JorgeMais de 60 mil pessoas são esperadas hoje para comemorar o Dia de São Jorge na paróquia de Quintino, Zona Norte do Rio. Este ano, como a data caiu no sábado de Aleluia, não haverá missas nas igrejas.
A procissão, que normalmente percorre as ruas do bairro, também foi modificada. Fiéis irão às ruas com velas acesas, numa referência à Páscoa, comemorada amanhã. Para alguns fiéis, a devoção será a mesma. “Sou devoto de São Jorge e nada me impedirá de agradecê-lo. Fiz uma operação para retirar um câncer e devo minha saúde a ele”, diz Mário Luiz, de 43 anos, que ontem foi com a família orar na Sexta-feira da Paixão.As barracas de artigos religiosos dentro da paróquia ficarão abertas o dia todo. Ambulantes que vendem fitas, rosas e chaveiros na porta da igreja estão otimistas. Alguns disseram que chegaram com bastante antecedência para conseguirem um bom lugar.
Na Igreja de São Jorge, situada na Rua da Alfândega, Centro do Rio, também houve mudanças. A tradicional alvorada, que acontece às 5h do dia 23, será amanhã, no mesmo horário, com a presença de Dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio.
Com lágrimas nos olhos. Foi assim que cerca de 6.000 pessoas assistiram ontem à noite à encenação da Paixão de Cristo, realizada pelo 11° ano consecutivo na Paróquia Senhor do Bonfim, no Parque das Nações, em Santo André. Desta vez a história foi contada sob a perspectiva do apóstolo Paulo, que sofreu perseguições, foi preso, torturado, julgado e morto, assim como Jesus. A encenação fez um paralelo entre a história de Paulo e a Paixão de Cristo, desde o encontro místico entre os dois até a crucificação.
Mais de 200 pessoas participam da organização e montagem do evento, sendo que 140 se apresentaram no palco montado ao ar livre, entre crianças, adultos e idosos. Um deles é Adalto Soares, 26 anos, que pela primeira vez representou Jesus Cristo. "É uma honra poder passar essa mensagem para o povo", afirmou.
De cabelos encaracolados pretos, barba e olhar bondoso, Adalto foi o grande responsável pela emoção geral dos que assistiam à encenação. "Eu também me emociono, não tem como não ficar assim ao reviver o sofrimento de Jesus", garantiu.
Já o apóstolo Paulo foi representado por Jair Evangelista Júnior, 31, que por três vezes encenou Jesus. Mesmo assim, estava orgulhoso de fazer o segundo papel mais importante da peça. "É a oportunidade de mostrar a minha fé", disse.
A encenação é organizada pelo Núcleo de Artes Cênicas da paróquia, que elabora a cada ano um texto inédito. "Para fazer cenário, figurino e maquiagem,são realizadas pesquisas em textos, filmes, internet e outras fontes. Nosso objetivo é chegar o mais próximo da realidade da época", explicou o diretor do espetáculo, Irivaldo Tadeu Cristófali, o Vado. O texto que traça um paralelo entre as histórias de Paulo e Jesus é de autoria do diretor. "Apresentei ao núcleo e a ideia foi aprovada. Anualmente temos o desafio de dar cara nova a uma história que todos conhecem", explicou.
GRANDIOSIDADE
Durante a encenação, várias cenas bíblicas são reproduzidas pelos atores, tais como a multiplicação dos pães, o lava-pés, o julgamento e a crucificação de Jesus, esses últimos os dois momentos mais esperados pelos expectadores.
Neste ano, o julgamento e crucificação do apóstolo Paulo, que se passaram após a ressureição de Jesus Cristo, foram encenados ao lado da crucificação do filho de Deus, o que trouxe ainda mais emoção à encenação do sofrimento de ambos em nome da fé.
O espetáculo durou cerca de uma hora e meia e foi marcado pela grandiosidade. As músicas, executadas ao vivo, são de autoria dos frequentadores da paróquia e ajudam a dar o tom de sofrimento à saga de Jesus. A iluminação valoriza as expressões dos atores, nenhum deles profissional, mas todos talentosos. Os figurinos são bastante elaborados e a maquiagem é de tirar o fôlego, especialmente quando Jesus aparece com ferimentos causados pelos soldados que o açoitam.
Para o frei José Rafael Júnior, responsável pela paróquia, a encenação da Paixão é um momento de oração. "Devemos lembrar sempre, não apenas na Sexta-Feira Santa, que Jesus sofreu e morreu na cruz por nós".
Espetáculo atrai famílias inteiras em nome da fé
A tradicional encenação da Paixão de Cristo realizada pela Paróquia Senhor do Bonfim, no Parque das Nações, em Santo André, atrai famílias e amigos que, juntos, rememoram o sofrimento de Jesus no momento de sua crucificação.
Os expectadores vêm até mesmo de outras cidades do Grande ABC para assistir ao tradicional espetáculo, que foi apresentado ontem pelo 11º ano consecutivo.
É o caso da professora e moradora de Mauá Evelin Mendes Rosa, 33 anos, que estava acompanhada do marido, Rodrigo Mendes Rosa, e do filho, Murilo Antonio Mendes, 3. "Em Mauá também temos a encenação da Paixão, mas neste ano resolvemos assistir aqui porque a peça é bem famosa", explicou ela.
De olhos atentos, Murilo ficou impressionado com o que viu. "Os figurinos são ótimos e realmente emocionam", disse Evelin.
A dona de casa Lurdes Constantino Bueno, 46, assistiu aos últimos passos do filho de Deus pela quinta vez. Vestindo uma camiseta onde se lia "Jesus Cristo", garantiu que a beleza da história de fé e sofrimento é o que a faz ir todos os anos e participar da celebração. "Cada espetáculo é mais bonito que o outro, vale muito a pena. Venho e trago toda a família." A babá Fátima Aparecida Amore, 55, assiste à encenação na Paróquia Senhor do Bonfim há quatro anos. Diz gostar de tudo, principalmente porque a cada ano a peça é encenada de um jeito. "Nós já sabemos o fim da história, que é sempre o mesmo, mas a gente se emociona todas as vezes", garantiu.
Neste ano foram investidos cerca de R$ 40 mil na encenação, valor patrocinado por parceiros do evento e pela venda de camisetas, canetas e outros artigos religiosos. Também foram arrecadados alimentos. Tudo em nome da fé.